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terça-feira, 2 de outubro de 2012

O ACESSO A TERRA DAS FAMÍLIAS DE GLÊNIO SÁ



O acesso à  terra própria é um sonho para muitas famílias  nordestinas, mas  uma  realidade  para aqueles  que  têm  coragem  de  trabalhar  e
procuram  se  associar.   O  projeto  de assentamento  Glênio  Sá,  na  zona  rural  de Caraúbas,  no  semi-árido  do  Rio  Grande  do Norte, é um exemplo de como a união garante terra mesmo para quem se considera pequeno.
 A luta pelo assentamento Glênio Sá começou em 2003  



Tudo começou em 2003, com os primos Antônio Carlos  e  Josivan  Antônio  da  Silva.  Eles moravam  com  os  pais  nas  terras  que  um  dia foram  dos  avôs.  Pequenas  propriedades  de pouco mais de 20 hectares numa região seca.
Antônio  Carlos  tinha  o  sonho  de  um  dia conquistar seu próprio pedaço. No caminho do município de Campo Grande, a 30 quilômetros de Caraúbas, um terra grande e improdutiva sempre chamava a sua atenção. Foi esse sonho que o levou a conhecer o Crédito Fundiário, do governo  federal. O programa oferece condições para que os trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra possam comprar um imóvel rural por meio de um financiamento.



Primos Josivan e Antônio Carlos que começaram a luta
Nessa época, dois ou  três assentamentos começavam a se  formar nesse sistema. Foi aí que Antônio Carlos e Josivan decidiram formar uma associação. Não foi difícil juntar 20 pessoas, praticamente todos  da  família,  que  viviam  nas  mesmas  terras  de  herança  ou  já  trabalhando  para  outros proprietários.

O  processo  da  compra  da  terra  começou  em 2003, com apoio técnico da ATOS (Assessoria, Consultoria  e Capacitação Técnica Orientada Sustentável), que ajudou a fundar a Associação Rural de Desenvolvimento Sustentável Glênio Sá. Mas, devido a problema com documentação de uma associada o processo se arrastou por três anos, só sendo concluído em 2006.


A  terra  de  pouco  mais  de  800  hectares  foi dividida em partes iguais para os 20 sócios, que ficaram com 43 hectares cada. Ao todo, foram liberados 360 mil reais para todas as famílias. 190 mil foi para pagar a terra e 170 mil reais a
fundo  perdido  para  implantação  de  casas, cercas  e  patrocinar  outros  projetos.  Assim todo ano, eles precisam depositar uma parcela
de R$ 9.300  (nove mil e  trezentos  reais) ou pouco mais de R$ 400  (quatrocentos  reais) por ano,  com  os  descontos  que  chegam  a  50%
(cinqüenta  por  cento)  do  valor  da  parcela anual.

Antônio Carlos disse que no começo não  foi fácil. A falta de experiência e de condições nos primeiros dois anos  fez gerar muitos conflitos e duas pessoas desistiram, sendo substituídas. Mas,  logo  que  tudo  foi  regularizado  e  eles
tiveram  acesso  ao  Programa  Nacional  de Fortalecimento  da  Agricultura  Familiar (Pronaf),  tudo começou a melhorar.


Rita Ferreira lembra que quando foi morar na propriedade ainda não tinha energia elétrica em casa, mesmo assim resistiu na  luz da  lamparina. Hoje, quando vê suas vaquinhas, as galinhas, a carroça e os projetos coletivos, sabe que valeu a pena cada esforço. O mesmo viveu dona Rita Gomes. Viúva, quase não consegue ser aceita na associação, mas provou que tem tanto braço e disposição quanto os homens para  fazer a área produzir, ainda que com  três  filhos menores. Plantando com seu pai, que tem um  lote ao  lado do seu, colheu, só neste ano, sete  tambores de  feijão.

 
 Rita Gomes conquistou sozinha a terra com três filhos pequenos
Os homens  iniciaram um projeto de criação de caprinos e as mulheres montaram uma horta coletiva, cujo excedente é vendido na Feira da Agricultura Familiar de Caraúbas. Os agricultores e agriculturas também  trabalham  com  apicultura,  cajueiro,  criação  de  pequenos  animais  e  esperam  ainda  a
implantação de um projeto de beneficiamento de polpa e criação de peixe em  tanques-rede no pequeno açude da  localidade.

Além  de  ter  onde  produzir,  as  famílias  de Glênio    aprenderam  a  valorizar  a  terra, priorizando  a  produção  agroecológica  e, principalmente,  a  soberania  alimentar.  Seu Edilson José Gomes, por exemplo,  tem uma
horta no  terreiro da  frente de cada. De  lá ele  tira tomate, pimentão, pimentinha e vários outros temperos que servem para seu alimento e dos
vizinhos.

As  famílias  de  Glênio    ainda  têm  muitas dificuldades  para  vencer,  mas  no  que depender da vontade, do esforço e do  trabalho, nunca  vai  faltar  nada  para  eles  continuarem vivendo a  tranqüilidade da  terra própria. 


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