O acesso à terra própria é um sonho para muitas famílias nordestinas, mas uma
realidade para aqueles que
têm coragem de
trabalhar e
procuram se
associar. O projeto
de assentamento Glênio Sá,
na zona rural
de Caraúbas, no semi-árido
do Rio Grande
do Norte, é um exemplo de como a união garante terra mesmo para quem se
considera pequeno.
A luta pelo
assentamento Glênio Sá começou em 2003
Tudo começou em 2003, com os
primos Antônio Carlos e Josivan
Antônio da Silva.
Eles moravam com os
pais nas terras
que um dia foram
dos avôs. Pequenas
propriedades de pouco mais de 20
hectares numa região seca.
Antônio Carlos
tinha o sonho
de um dia conquistar seu próprio pedaço. No caminho
do município de Campo Grande, a 30 quilômetros de Caraúbas, um terra grande e
improdutiva sempre chamava a sua atenção. Foi esse sonho que o levou a conhecer
o Crédito Fundiário, do governo federal.
O programa oferece condições para que os trabalhadores rurais sem terra ou com
pouca terra possam comprar um imóvel rural por meio de um financiamento.
Primos
Josivan e Antônio Carlos que começaram a luta
Nessa época, dois ou três assentamentos começavam a se formar nesse sistema. Foi aí que Antônio Carlos
e Josivan decidiram formar uma associação. Não foi difícil juntar 20 pessoas,
praticamente todos da família,
que viviam nas
mesmas terras de
herança ou já
trabalhando para outros proprietários.
O processo
da compra da
terra começou em 2003, com apoio técnico da ATOS
(Assessoria, Consultoria e Capacitação
Técnica Orientada Sustentável), que ajudou a fundar a Associação Rural de
Desenvolvimento Sustentável Glênio Sá. Mas, devido a problema com documentação de
uma associada o processo se arrastou por três anos, só sendo concluído em 2006.
A terra
de pouco mais
de 800 hectares
foi dividida em partes iguais para os 20 sócios, que ficaram com 43
hectares cada. Ao todo, foram liberados 360 mil reais para todas as famílias. 190
mil foi para pagar a terra e 170 mil reais a
fundo perdido
para implantação de
casas, cercas e patrocinar
outros projetos. Assim todo ano, eles precisam depositar uma
parcela
de R$ 9.300 (nove mil e
trezentos reais) ou pouco mais de
R$ 400 (quatrocentos reais) por ano, com
os descontos que
chegam a 50%
(cinqüenta por
cento) do valor
da parcela anual.
Antônio Carlos disse que no
começo não foi fácil. A falta de
experiência e de condições nos primeiros dois anos fez gerar muitos conflitos e duas pessoas
desistiram, sendo substituídas. Mas,
logo que tudo
foi regularizado e eles
tiveram acesso
ao Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf), tudo começou a
melhorar.
Rita Ferreira lembra que
quando foi morar na propriedade ainda não tinha energia elétrica em casa, mesmo
assim resistiu na luz da lamparina. Hoje, quando vê suas vaquinhas, as
galinhas, a carroça e os projetos coletivos, sabe que valeu a pena cada
esforço. O mesmo viveu dona Rita Gomes. Viúva, quase não consegue ser aceita na
associação, mas provou que tem tanto braço e disposição quanto os homens
para fazer a área produzir, ainda que
com três
filhos menores. Plantando com seu pai, que tem um lote ao
lado do seu, colheu, só neste ano, sete
tambores de feijão.
Rita Gomes conquistou sozinha a terra com três filhos pequenos
Os homens iniciaram um projeto de criação de caprinos e
as mulheres montaram uma horta coletiva, cujo excedente é vendido na Feira da
Agricultura Familiar de Caraúbas. Os agricultores e agriculturas também trabalham
com apicultura, cajueiro,
criação de pequenos
animais e esperam
ainda a
implantação de um projeto de
beneficiamento de polpa e criação de peixe em
tanques-rede no pequeno açude da
localidade.
Além de
ter onde produzir,
as famílias de Glênio
Sá aprenderam a
valorizar a terra, priorizando a
produção agroecológica e, principalmente, a
soberania alimentar. Seu Edilson José Gomes, por exemplo, tem uma
horta no terreiro da
frente de cada. De lá ele tira tomate, pimentão, pimentinha e vários
outros temperos que servem para seu alimento e dos
vizinhos.
As famílias
de Glênio Sá
ainda têm muitas dificuldades para
vencer, mas no que
depender da vontade, do esforço e do
trabalho, nunca vai faltar
nada para eles
continuarem vivendo a
tranqüilidade da terra
própria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário